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sábado, 11 de março de 2017

Crase

A crase costuma ser aquela matéria demoníaca que muita gente não suporta em Língua Portuguesa. Afinal de contas, para que utilizar aquele bendito símbolo, já que na hora de pronunciarmos as palavras ele nem sequer aparece. Pois é, tá aí uma das milhões de regras que os idiomas têm e que ninguém sabe explicar muito bem de onde surgiu.

Mas o fato é que escrever bem é necessário não só para a escola, mas para o mercado de trabalho também. Assim, vamos abordar hoje os usos da crase, mas não sem antes confessar que aprendemos a empregá-la de forma correta por meio de muita leitura. Isso mesmo, não foi uma decoreba boba para a prova que nos ensinou a “crasear”, mas sim os diversos livros que lemos ao longo dos anos. Então fica aqui uma primeira (e ótima) dica de como aprender a acentuar de forma correta: leia muito.

Antes de começar, porém, esclarecemos duas coisas importantes:
a) o símbolo utilizado para representar a crase se chama acento grave (`). É importante deixar isso claro, pois, em algumas gramáticas, é esse o nome que vocês vão encontrar no sumário;
b) a gente precisa entender o que é artigo e preposição antes de continuar. Vamos lá!

Artigo é a palavra (ou são as palavras) que vem antes do substantivo para indicar:

- um ser sobre o qual a gente já ouviu falar por ter sido mencionado antes ou por conta de nossa experiência de mundo.

I - Exemplo de alguém que já foi mencionado antes

Vamos imaginar uma roda de fofoca na escola.

Ana: - Gente, vocês ficaram sabendo?! Um tal de João foi pego riscando o carro do professor de Língua Portuguesa.

Bruno: - Eu ouvi! O menino foi suspenso por uma semana! 

Na segunda frase, o artigo “o” indica “João”, que já foi mencionado na primeira sentença.
II - Exemplo de algo que já é de nosso conhecimento

O Sol gira em torno da Terra. 

O artigo “o” veio antes do substantivo “Sol”, e a frase acima faz uma afirmação conhecida pela maior parte da população.

- um representante de uma espécie que ninguém mencionou antes.

III – Exemplo de um representante de uma espécie que ninguém mencionou antes

Ficamos numa casa de um amigo dele(a) durante a festa.

Uma” refere-se à palavra “casa”, que não havia sido mencionada antes e que representa um lugar comum.

Preposição é uma palavra invariável (não muda) que serve para explicar ou completar a relação entre duas outras palavras. Difícil, né? Vamos tentar deixar mais fácil, vejam as palavras abaixo:

Roma – vou - a

Agora vamos formar uma frase bem simples:

“Vou a Roma”

A preposição a está ajudando o verbo vou a ter seu sentido completado pelo substantivo Roma. Por exemplo, se alguém chegasse para você e dissesse “Vou Roma”, você provavelmente entenderia a frase, mas acharia estranho, porque está faltando algo aí no meio para melhorar a oração. Daí, a preposição chega e ajuda a completar a relação entre as duas palavras.
Aqui vai uma lista de preposições: a, ante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre, para, perante por (per), sem, sob, sobre, trás.

AVISO: Não confundam preposição com conjunção. A conjunção é aquele(a) amigo(a) que ajuda a gente a pegar o crush, sabe?! A conjunção arma os esquemas entre duas palavras ou duas orações que estão se paquerando, mas que precisam de ajuda. Porém, esse não é o papel da preposição, ok? A preposição é como um professor, que ajuda a explicar e a completar os sentidos das coisas. 

Agora sim, a crase!

Definição segundo a Nova gramática do português contemporâneo: “O acento grave é empregado para indicar a crase da preposição a com a forma feminina do artigo (a, as) e com os pronomes demonstrativos a(s), aquele(s), aquela(s), aquilo”.

Em outras palavras, a crase é a junção do artigo a com a preposição a. Vejamos alguns exemplos:

I - Vou à (a+a) feira com a minha mãe.

A crase aqui ocorre porque primeiro temos a preposição a, que ajudaria a completar o sentido do verbo “vou” com o substantivo “feira”; depois, vemos o artigo a, que vem antes do substantivo “feira”, que representa um lugar comum, conhecido por todos. Resumindo: pense no verbo ir. Quem vai, vai a algum lugar, certo? Pronto! Temos dois “A” aí. CRASE!

Vamos ver outros exemplos
- Mário saiu às pressas para assistir o jogo do seu time.
- Quando chegar em Santana, vire à direita para entrar na estação de metrô.
Existem alguns casos que o uso da crase é OBRIGATÓRIO. São eles:
- Diante de nomes femininos:
Fui à padaria pela manhã. (Quem vai, vai a algum lugar)
Assisti à peça, mas não gostei. (Quem assiste, assiste a algo)
Obedeça às leis de trânsito. (Quem obedece, obedece a alguém ou algo)
Cheguei à escola um pouco atrasado. (Quem chega, chega em/a algum lugar)

- Diante de:

aquele(s)
a + aquela(s)
aquilo

 
 









Entreguei o cartão àquele homem. (Quem entrega, entrega algo a alguém)
Dirija-se àquela mulher. (Quem se dirige, se dirige a alguém ou a algum local)
Refiro-me àquilo que disse ontem! (Quem se refere, se refere a algo ou a alguém)

- Diante de locuções adverbiais femininas:
Às cegas
À noite / À tarde
Às pressas
À direita / À esquerda
Às vezes
À toa
À vontade

- Diante da palavra MODA subentendida:

Camarão à baiana. (Camarão à moda baiana).
Bife à parmegiana. (Bife à moda parmegiana)
Berinjela à milanesa.(Berinjela à moda amilanesa)

- Diante da indicação de horas:
Sairei às 2h para não chegar atrasado.
Casos em que o uso da crase é PROIBIDO. São eles:
- Diante de nomes masculinos:
Amor a Deus.
Entregue o documento a/ao Paulo.

- Diante de verbos:
Depois de cair, continuou a caminhar.

Diante de pronomes pessoais (eu, tu, ele, nós, vós, eles).
Dirigiu-se a ela para falar da viagem.

- Diante de pronomes de tratamento:
Falei para você tudo que sabia.

- Entre palavras repetidas:
Cara a cara.
Face a face.
Dia a dia.

Casos em que o uso de crase é OPTATIVO:
- Com pronomes possessivos:
Irei à minha casa de campo no mês que vem.
Irei a minha casa de campo no mês que vem.

- Com nomes próprios de mulher:
Dê o livro à Thaís, por favor.
Dê o livro a Thaís, por favor.

Finalizando, deixamos uma pequena rima aqui para quem precisar lembrar de como utilizar a crase quando for falar de lugares (cidade, estado ou país):

Se for “a” volto “da”,
Crase haverá,
Se for “a” volto “de”,
Crase pra quê?

O que isso quer dizer? Bem, vamos olhar as frases abaixo e ver como a regra funciona nesses casos:

I - Pedro foi à Bahia. (Pedro foi à Bahia e voltou da Bahia)
II - Ana foi a São Paulo. (Ana foi a São Paulo e voltou de São Paulo)

Agora, se houver especificação, a crase ocorre. Como assim? Por exemplo, se eu digo “Eu vou a Brasília”, não há crase, porque vou “a” Brasília e volto “de” Brasília. Porém, se eu acrescentar uma informação que caracterize o local, a frase exige crase. Veja: “Eu vou à Brasília de meus avós”. Pronto, a crase passa a ser utilizada nesse último exemplo, pois eu caracterizei a cidade de Brasília.

Ainda tem dúvidas sobre o uso de crase? Então outra dica é trocar a palavra feminina por uma masculina. Se ao trocar, a preposição AO for utilizada, isso indica que ocorre a crase com a palavra feminina. Veja:

Obedeça às mães.
(Obedeça AOS pais.) – apareceu AOS, crase no A.
Entreguei a carta.
(Entreguei O cartão.) – não apareceu AO, não ocorre
crase.

REFERÊNIAS BIBLIOGRÁFICAS

CUNHA, Celso; CINTRA, Lindley. Nova gramática do português contemporâneo. 3ª edição. Rio de Janeiro: Lexikon, 2013.




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